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Publicado: 15 de novembro de 2025 às 09:32

STF analisa pedido por mulher negra na vaga de Barroso: Mendonça cobra de Lula critérios para indicação

Ação do grupo DeFEMde, de mulheres negras juristas, busca mandado de segurança para priorizar diversidade

O Supremo Tribunal Federal (STF) examina um mandado de segurança que pressiona o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) a priorizar a indicação de uma mulher negra para a vaga deixada pelo ministro Luís Roberto Barroso, que assume a presidência do Tribunal de Contas da União (TCU) em breve. O ministro André Mendonça, único evangélico na Corte e nomeado por Jair Bolsonaro (PL), determinou que Lula esclareça os critérios para a escolha, em resposta à ação protocolada pelo grupo DeFEMde – formado por mulheres negras e juristas. A iniciativa, que pede liminar para garantir a diversidade étnico-racial e de gênero, é a terceira oportunidade de Lula nomear uma mulher negra ao STF, algo inédito na história da Corte.

A ação argumenta que nomes cotados como Jorge Messias (AGU), Rodrigo Pacheco (senador pelo PSD-MG) e Bruno Dantas (TCU) representam o perfil "étnico-racial e de gênero historicamente dominante" – homens brancos –, violando o princípio constitucional de igualdade e a Convenção Interamericana contra o Racismo, ratificada durante o governo Dilma Rousseff (PT). O grupo cobra que a Presidência considere candidaturas de perfis excluídos, promovendo inclusão em um Judiciário que reflete a pluralidade social brasileira.

“Pedimos que a vaga seja preenchida de acordo com o bloco constitucional que rege o Brasil – a Constituição Federal e normas de direitos humanos, especialmente as Emendas Constitucionais”, afirmou Raphaella Reis de Oliveira, advogada do DeFEMde, em entrevista à CNN Brasil na sexta-feira (14).

Contexto da ação: diversidade como imperativo constitucional

O mandado de segurança, previsto na Constituição para proteger direitos ameaçados por atos de autoridades, busca evitar o que o grupo chama de "violação reiterada" do bloco de constitucionalidade. A Convenção Interamericana, firmada em 2013, obriga os sistemas jurídicos a espelhar a diversidade social, combatendo o racismo estrutural. No STF, formado por 11 ministros, apenas Cármen Lúcia é mulher, e nenhuma é negra – um descompasso com a população brasileira, onde mulheres negras representam 25% dos eleitores (TSE).

Mendonça, em despacho sigiloso, concedeu prazo para Lula se manifestar, questionando os parâmetros da indicação. O presidente, que indicou Flávio Dino e Cristiano Zanin em 2023 (ambos homens brancos), enfrenta pressão de movimentos feministas e antirracistas. Aliados petistas defendem que Lula priorize "meritocracia com inclusão", enquanto opositores veem na ação uma "cota imposta" que ignora qualificações técnicas.

 

Nome cotadoCargo atualPerfilCrítica do DeFEMde
Jorge MessiasChefe da AGUHomem brancoRepresenta dominância histórica
Rodrigo PachecoSenador (PSD-MG)Homem brancoNão reflete pluralidade
Bruno DantasMinistro do TCUHomem brancoExcluído por falta de diversidade

Implicações políticas: equilíbrio entre inclusão e autonomia presidencial

A decisão pode marcar um avanço na representatividade do STF, alinhando-o à agenda de gênero e raça do governo Lula – que criou a Secretaria de Políticas para Mulheres Negras. No entanto, especialistas alertam para tensões: a Constituição (art. 101) dá ao presidente discricionariedade na escolha, desde que aprovada pelo Senado, mas ações afirmativas ganham força pós-Constituição de 1988. O grupo DeFEMde enfatiza que não busca "cotas rígidas", mas priorização de perfis sub-representados.

“A Presidência deve proceder com prioridade à indicação de uma mulher negra, perfil historicamente excluído da Corte”, reforçou Oliveira.

Críticos, como colunistas da Revista Oeste, veem o pedido como "interferência ideológica" que compromete a meritocracia. O STF deve julgar o mérito em plenário, possivelmente em dezembro, antes da posse de Barroso no TCU.

O caso reflete debates globais sobre diversidade judicial, como nos EUA (onde Ketanji Brown Jackson foi a primeira negra em 2022). Para Lula, é uma chance de consolidar legado inclusivo, mas com risco de polarização no Senado.