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Publicado: 15 de novembro de 2025 às 09:49

Brasil assina acordo global para banir caminhões a biocombustível até 2040: foco em veículos elétricos contrasta com aposta nacional em etanol e biodiesel

Compromisso na COP30, liderado pela Colômbia, exige 30% de frota zero emissão em 2030; agronegócio vê risco para expansão de biometano

O Brasil aderiu a uma aliança internacional de 42 países para eliminar a venda de caminhões e ônibus a biocombustível até 2040, priorizando veículos com zero emissões diretas no escapamento. O acordo, assinado durante a COP30 em Belém na terça-feira (11), é liderado pela coalizão Drive to Zero, da Colômbia, e estabelece metas intermediárias: 30% dos veículos médios e pesados comercializados no país devem ser livres de emissões de fumaça até 2030, alcançando 100% em 2040. A metodologia conta apenas poluentes liberados no uso, favorecendo eletricidade e hidrogênio verde, mas excluindo biocombustíveis como etanol e biodiesel – uma contradição com a agenda de Lula para o agro.

O compromisso, anunciado pelo Ministério dos Transportes, integra esforços globais de descarbonização do transporte pesado, responsável por 25% das emissões de CO2 no setor. No Brasil, isso afeta uma frota de 1,5 milhão de caminhões, onde o diesel domina 95% do consumo, segundo a Anfavea.

“O acordo reforça a transição para tecnologias limpas, mas precisamos adaptar para incluir soluções nacionais como o biometano, que já impulsiona o agro sustentável”, afirmou o ministro dos Transportes, Renan Filho, em nota oficial.

Contexto: de aposta em biocombustíveis a pressão global por eletrificação

A adesão ocorre em meio à defesa de Lula por uma "economia verde" baseada em biocombustíveis, destacada na Cúpula do Clima. Em outubro, o presidente apresentou o Bevan (biocombustível derivado de gordura animal e óleo de soja), ao lado do vice Geraldo Alckmin e do ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, como alternativa ao diesel fóssil. O setor de biometano, por exemplo, emplacou 356 caminhões de janeiro a junho – superando o total de 2023 –, com investimentos de montadoras como Scania e Iveco, e adoção por empresas como Natura e L’Oréal.

No entanto, o memorando da Drive to Zero ignora emissões indiretas (na produção), excluindo esses combustíveis de baixo carbono. Críticos, como o agronegócio, veem risco para exportações: o Brasil é líder em etanol (27 bilhões de litros/ano) e biodiesel (8 bilhões), com potencial de US$ 10 bilhões em vendas globais até 2030.

 

Meta do acordoPrazoImpacto no Brasil
30% zero emissão2030Afeta 450 mil veículos novos/ano (Anfavea)
100% zero emissão2040Substitui 1,5 mi de caminhões a diesel/bio
Exclusão de biocomb.ImediatoPrejudica R$ 50 bi/ano em produção agro

Reações: surpresa no agro e alertas ambientais

O setor agropecuário reagiu com surpresa e preocupação. A Unica (etanol) e a Abiove (soja) cobram revisão para incluir biocombustíveis, argumentando que eles reduzem emissões em 70% vs. diesel. Empresas de biometano temem paralisia em investimentos, enquanto ambientalistas elogiam o foco em eletrificação para cortar poluição local.

“É um retrocesso para o Brasil, que lidera em biocombustíveis. Caminhões elétricos exigem baterias caras e minerais raros, enquanto o etanol usa o agro que já temos”, criticou Marcelo Vieira, presidente da Unica.

A coalizão, com países como EUA, UE e China, vê o acordo como "acelerador para net zero". No Brasil, o Ministério planeja incentivos fiscais para hidrogênio verde (R$ 1 bilhão previstos), mas sem menção a biocombustíveis.

Analistas alertam: sem adaptação, o agro perde mercado, mas o compromisso fortalece a imagem do Brasil na COP30, onde Lula busca liderança em transição energética.