Meta lucra US$ 16 bilhões com anúncios fraudulentos em 2024, revelam documentos internos
Reuters expõe dilema da empresa: priorizar receita de golpes ou combater fraudes; Meta remove 134 mi de conteúdos
Documentos internos da Meta Platforms, controladora do Facebook, Instagram e WhatsApp, revelam que a companhia projeta faturar US$ 16 bilhões em 2024 com anúncios ligados a golpes e produtos proibidos – cerca de 10% de sua receita total de publicidade, estimada em US$ 160 bilhões. A estimativa, obtida pela Reuters, expõe o conflito entre a busca por lucros e a moderação de conteúdos fraudulentos, com a Meta optando por cobrar tarifas extras de anunciantes suspeitos em vez de bani-los imediatamente, permitindo que bilhões de anúncios de risco circulem diariamente.
Os registros mostram que as plataformas expõem usuários a 15 bilhões de anúncios suspeitos por dia, com fraudes originadas principalmente de anunciantes que acionam alertas internos. A empresa intervém apenas em casos de "alto risco", faturando US$ 3,5 bilhões por semestre com anúncios moderados. Essa estratégia sustenta uma fatia significativa da economia global de golpes: nos EUA, a Meta estaria envolvida em um terço das fraudes bem-sucedidas, segundo análises internas.
“Os registros oferecem uma visão seletiva e distorcem a abordagem da empresa contra fraudes e golpes”, rebateu o porta-voz Andy Stone, em declaração à Reuters.
Escala da fraude: dilema operacional e metas internas
A Meta removeu mais de 134 milhões de conteúdos fraudulentos em 2025, mas adota uma abordagem gradual: anúncios de "risco moderado" recebem taxas mais altas, enquanto os de "alto risco" são banidos. Isso equilibra receita e moderação, mas prioriza projeções financeiras – multas regulatórias potenciais de US$ 1 bilhão são inferiores aos ganhos com esses anúncios.
Internamente, a companhia estabeleceu metas para reduzir a dependência:
- 2024: 10,1% da receita de anúncios fraudulentos
- 2025: 7,3%
- 2027: 5,8%
A Meta planeja investir US$ 72 bilhões em IA e infraestrutura para aprimorar detecções, focando em países com maior risco regulatório. No entanto, críticos veem nisso uma admissão de que os lucros atuais superam os custos de combate à fraude.
| Ano | % Receita de anúncios fraudulentos | Valor estimado (US$ bi) |
|---|---|---|
| 2024 | 10,1% | 16 |
| 2025 | 7,3% | ~11,7 (projeção) |
| 2027 | 5,8% | ~9,3 (projeção) |
Pressão regulatória: investigações nos EUA e Reino Unido
A revelação intensifica escrutínio global. Nos Estados Unidos, a Comissão de Valores Mobiliários (SEC) investiga anúncios de golpes financeiros na Meta, com foco em transparência para investidores. No Reino Unido, um relatório regulador apontou que produtos da Meta foram usados em 54% das fraudes com pagamentos em 2023 – mais que todas as outras redes sociais juntas.
Especialistas em cibersegurança alertam para o ciclo vicioso: algoritmos personalizados ampliam o alcance de fraudes, atingindo vulneráveis como idosos. A União Europeia, sob o Digital Services Act, pode impor multas de até 6% da receita global (US$ 9,6 bilhões) se a Meta não aprimorar moderações.
“A Meta prioriza lucros sobre proteção de usuários, transformando suas plataformas em paraíso para golpistas. É hora de regulação global rigorosa”, cobra Daniel Castro, analista de políticas digitais do Information Technology and Innovation Foundation (ITIF).
Implicações: equilíbrio entre inovação e responsabilidade
O caso reflete o dilema das big techs: a publicidade, motor de 98% da receita da Meta (US$ 156 bilhões em 2023), depende de volume, mas fraudes erodem confiança. Com 3,2 bilhões de usuários mensais, a empresa enfrenta demandas por IA mais robusta, mas adia ações radicais para não impactar balanços.
Analistas preveem que, sem reformas, escândalos semelhantes ao de Cambridge Analytica (2018) podem se repetir, com perdas de US$ 100 bilhões em valor de mercado. A Meta, por sua vez, aposta em parcerias com reguladores para mitigar riscos, enquanto planeja expansão em metaverso – onde anúncios fraudulentos também podem proliferar.
