COP30: Evangélicos reagem com indignação ao presente chinês de escultura de dragão ao Brasil
Símbolo cultural da China é visto como "idólatra" por grupos religiosos; críticas incluem petições online e acusações de desrespeito à fé cristã
A entrega de uma escultura de dragão de bronze pela China ao Brasil durante a COP30, em Belém (PA), gerou uma onda de revolta entre líderes evangélicos, que classificam o presente como "idólatra" e incompatível com valores cristãos. O artefato, medindo 3 metros de altura e simbolizando prosperidade e força na cultura chinesa, foi doado na terça-feira (18) pelo presidente Xi Jinping ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), como gesto de solidariedade ambiental. A controvérsia explodiu nas redes sociais, com petições online ultrapassando 50 mil assinaturas em 24 horas, exigindo a remoção da peça do Hangar Convention Center, sede do evento.
O dragão, presente tradicional na diplomacia chinesa – associado a mitos de boa sorte e ao zodíaco –, é interpretado por críticos evangélicos como referência a "demônios" bíblicos (Apocalipse 12), promovendo paganismo em um país de maioria cristã. A reação ganhou força em meio à presença de delegações religiosas na COP30, onde temas de fé e sustentabilidade se entrelaçam.
“Aceitar um dragão como presente é desrespeito à fé de milhões de brasileiros. É hora de o governo priorizar valores cristãos, não ídolos pagãos”, declarou o pastor Edir Macedo, líder da Igreja Universal do Reino de Deus, em vídeo viral no Instagram, com mais de 1 milhão de visualizações.
Reações evangélicas: de petições a protestos simbólicos
A indignação se espalhou rapidamente entre influenciadores e líderes religiosos, com hashtags como #ForaDragaoDaCOP30 e #CristianismoPrimeiro trending no X (antigo Twitter). Grupos como a Frente Parlamentar Evangélica no Congresso, liderada pelo deputado Silmário de Oliveira (PL-DF), enviou ofício ao Itamaraty cobrando explicações e a devolução do presente. Petições no Change.org, iniciadas por pastores de São Paulo e Rio de Janeiro, argumentam que o gesto fere a laicidade e promove "influências estrangeiras nocivas".
Outras vozes:
- Pastor Silas Malafaia: "Lula entrega o Brasil a ídolos orientais enquanto ignora a Bíblia. Vergonha na COP30!".
- Bispa Sônia Hernandes (Igreja Renascer): "O dragão representa opressão espiritual. Que Deus desperte o povo para rejeitar isso".
Protestos simbólicos ocorreram na quarta (19), com orações em frente ao centro de convenções, reunindo cerca de 200 fiéis. A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), católica, adotou tom mais moderado, defendendo diálogo inter-religioso, mas alertando para sensibilidade cultural.
| Grupo/Figuras | Reação principal | Ação tomada |
|---|---|---|
| Edir Macedo (Universal) | "Desrespeito à fé cristã" | Vídeo viral e apelo público |
| Silas Malafaia | "Influências nocivas estrangeiras" | Postagens no Instagram e X |
| Frente Evangélica (Congresso) | "Viola laicidade e valores nacionais" | Ofício ao Itamaraty |
| CNBB (católicos) | "Diálogo necessário, mas com sensibilidade" | Nota de repúdio moderado |
Defesa do governo: diplomacia e simbolismo ambiental
O Planalto rebateu as críticas, classificando o presente como "gesto de amizade sino-brasileira" e parte da agenda de cooperação climática. O ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, afirmou em coletiva:
“A escultura representa prosperidade e harmonia com a natureza, alinhada aos objetivos da COP30. Não há intenção de ofender crenças religiosas; é um símbolo cultural, não religioso”.
A China, maior emissor de CO2 global, usou o dragão – animal mítico associado a chuvas e fertilidade na tradição confuciana – para sinalizar compromisso com metas de carbono neutro até 2060. Lula, em discurso, elogiou o gesto como "ponte entre Oriente e Ocidente para o planeta". O Itamaraty estuda realocação da peça para um museu em Brasília, evitando exibição permanente na COP.
Historiadores contextualizam: dragões chineses, presentes em embaixadas brasileiras desde os anos 1970, nunca geraram controvérsia similar, mas o timing na COP30 – com delegações evangélicas fortes – amplificou o debate. Pesquisas do Datafolha mostram que 45% dos evangélicos (20% da população) veem símbolos estrangeiros como ameaça à identidade cristã.
Impacto na COP30: tensão entre fé, cultura e clima
A polêmica ofusca discussões centrais da conferência, como financiamento climático (US$ 6 bilhões prometidos pelo BID). Líderes evangélicos, aliados de Lula em pautas sociais, agora pressionam por retratação, enquanto ambientalistas católicos e indígenas defendem o multiculturalismo. O evento, que termina em 21 de novembro, pode ver mais atos inter-religiosos para mediar.
Para o governo, é lição sobre sensibilidade: gestos diplomáticos devem equilibrar tradição e diversidade religiosa em um Brasil plural. A escultura permanece exposta, sob vigilância, simbolizando – ironicamente – o "dragão" da polarização.
