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Publicado: 20 de novembro de 2025 às 08:40

Acabou o “todes”: Lula proíbe linguagem neutra em todos os órgãos públicos do país

Medida visa clareza na comunicação, mas divide opiniões entre defensores da gramática tradicional e ativistas LGBTQIA+

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) sancionou, na segunda-feira (17), a lei que institui a Política Nacional de Linguagem Simples, proibindo o uso de linguagem neutra – como "amigue", "todes", "elu" ou formas com "x" e "@" – em todos os documentos e comunicações da administração pública federal, estadual e municipal. Publicada no Diário Oficial da União, a norma busca tornar as informações governamentais mais acessíveis, com frases curtas, palavras comuns e explicações de termos técnicos, reduzindo a barreira entre o Estado e o cidadão. No entanto, a medida reacende debates sobre inclusão: enquanto conservadores aplaudem a defesa da gramática tradicional, ativistas LGBTQIA+ criticam o retrocesso na representação de identidades não binárias.

A lei altera a estrutura da comunicação oficial, vedando "novas formas de flexão de gênero e de número das palavras da língua portuguesa, em contrariedade às regras gramaticais consolidadas, ao Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa (Volp) e ao Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa". Isso afeta desde editais e formulários até discursos em eventos públicos, priorizando clareza sobre experimentações linguísticas.

"Os órgãos da administração pública não deverão usar novas formas de flexão de gênero e de número das palavras da língua portuguesa, em contrariedade às regras gramaticais consolidadas", estabelece o texto legal, refletindo uma vitória para quem vê a linguagem neutra como "artificial" e distante da norma culta.

Contexto: de inclusão a simplicidade, o que muda na prática

A linguagem neutra, popular em redes sociais e na comunidade LGBTQIA+ para incluir pessoas não binárias ou trans, ganhou espaço no governo Lula em 2023, com termos como "todes" usados por ministros como Alexandre Padilha em posses e eventos. No entanto, o presidente nunca adotou o recurso, e a sanção da lei – originada do PL 3.594/2021, de autoria do deputado Osmar Terra (MDB-RS) – sinaliza um ajuste para uniformidade. A Política Nacional de Linguagem Simples vai além da proibição: incentiva guias de redação simples, testes de compreensão e treinamento para servidores, visando reduzir a "exclusão digital" em serviços públicos.

Impactos esperados:

  • Clareza para todos: Frases curtas e termos acessíveis beneficiam idosos, analfabetos funcionais e populações rurais, que representam 15% dos brasileiros com baixa literacia (Pnad 2023).
  • Limites à diversidade: Ativistas argumentam que a norma ignora a evolução da língua, usada em leis como a de identidade de gênero (2024), e pode marginalizar vozes não binárias em contextos oficiais.
  • Aplicação gradual: Municípios e estados terão 180 dias para adaptar materiais, com fiscalização pelo Ministério da Gestão e Inovação.

 

AspectoO que mudaExemplos afetados
Documentos oficiaisProibidas flexões neutras; foco em gramática padrãoEditais: "cidadão" em vez de "cidadãe" ou "elu"
Eventos e discursosUniformidade em falas públicasPosse: "todos" em vez de "todes"
Materiais educativosLinguagem simples, sem jargões ou neologismosGuias: explicações curtas para termos técnicos

Reações: aplausos de conservadores e críticas de ativistas

Conservadores celebram a lei como defesa da "língua pátria", com o deputado Osmar Terra chamando-a de "vitória contra o politicamente correto que confunde o povo". O ministro Flávio Dino (Justiça), que usou linguagem neutra em 2023, evitou comentários, mas fontes do Planalto indicam que a sanção reflete pragmatismo: Lula prioriza acessibilidade sobre debates identitários.

Ativistas LGBTQIA+, como a coordenadora do Grupo Arco-Íris, Cláudia Regina Trindade, criticam:

"É um retrocesso. A linguagem neutra é ferramenta de inclusão, não confusão. O governo perde chance de avançar na igualdade de gênero em um país com 40% de jovens não binários invisíveis (IBGE 2024)."

A Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) apoia a clareza, mas cobra monitoramento para evitar censura. No Congresso, o PL vê na lei um trunfo para 2026, enquanto o PT mineiro discute impactos em políticas afirmativas.

O que a lei significa para o dia a dia

Para servidores, treinamentos obrigatórios em redação simples chegam em 2026. Cidadãos ganham acesso mais fácil a serviços, mas perdem representatividade em textos oficiais. Linguistas como Ataliba T. de Castilho (USP) defendem: "A língua evolui, mas a simplicidade é essencial para democracia – o equilíbrio virá com o uso cotidiano."

Em um Brasil multirracial, a lei reforça o debate: clareza ou inclusão? Para ativistas, é hora de lobby por emendas; para o governo, de implementar sem polarização.