TCP: a facção 'evangélica' que vira terceira força do crime organizado no Brasil
Grupo dissidente do Comando Vermelho expande do Rio para Ceará e outros estados, usando símbolos cristãos para justificar violência
O Terceiro Comando Puro (TCP), facção criminosa nascida como dissidência do Comando Vermelho (CV) no Rio de Janeiro, emerge como a terceira força do crime organizado no Brasil, atrás apenas do CV e do Primeiro Comando da Capital (PCC). Conhecido por sua identidade evangélica, o grupo usa símbolos cristãos como a Estrela de Davi e frases como "Jesus é dono do lugar" para legitimar expansões territoriais e guerras contra rivais, incluindo intolerância religiosa que fecha terreiros de umbanda. De acordo com relatório da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), o TCP se espalhou para nove estados em um ano, com foco no Ceará, onde alia-se a grupos locais como os Guardiões do Estado (GDE) para dominar o narcotráfico e extorsões. Especialistas alertam para o risco de escalada de violência, com o "narcopentecostalismo" justificando chacinas como "guerra espiritual".
O TCP surgiu em 2002 no Complexo de Israel, zona norte do Rio, dominando cinco comunidades. Seu líder, Álvaro Malaquias Santa Rosa, o "Peixão" (39 anos), construiu um imóvel de luxo em área ambiental protegida, demolido em operação policial em março. Sua conversão evangélica é incerta, mas o grupo incorpora discursos religiosos para recrutar e confrontar o CV, ligado a religiões de matriz africana.
“O TCP é o terceiro grupo emergente no contexto nacional, atrás do CV e do PCC. Eles usam o discurso religioso para legitimar a expansão e os confrontos”, afirmou Pedro Souza Mesquita, coordenador-geral da Abin, em relatório apresentado em novembro.
Expansão nacional: do Rio ao Ceará em meses
O TCP, que controla o Complexo de Israel com símbolos como uma Estrela de Davi neon (destruída em operação), expandiu-se para Espírito Santo, Minas Gerais, Goiás, Bahia, Ceará, Amapá, Acre, Mato Grosso do Sul e Rio Grande do Sul no último ano. No Ceará, a chegada há três meses transformou Maracanaú (região metropolitana de Fortaleza) em foco de violência, com pichações religiosas e fechamento de quatro terreiros de umbanda em outubro. Em setembro, 37 membros foram presos na região metropolitana.
A facção alia-se ao PCC para acesso a redes de drogas e armas internacionais, e se aproxima de milícias para extorsões. No Rio, rivaliza com o CV em guerras territoriais, usando granadas, drones e armas pesadas. No Ceará, incorporou o GDE – enfraquecido após chacina de 2018 que matou 14 em uma festa –, com lideranças migrando para o Rio para costurar a parceria.
| Estado | Expansão recente | Atividades principais |
|---|---|---|
| Rio de Janeiro | Origem (2002) | Controle de Complexo de Israel; guerras com CV |
| Ceará | Há 3 meses | Aliança com GDE; fechamento de terreiros; extorsões a vendedores |
| Espírito Santo, MG, GO | Último ano | Narcotráfico e expansão territorial |
| Bahia, Amapá, Acre, MS, RS | Último ano | Alianças locais e intolerância religiosa |
Narcopentecostalismo: religião como ferramenta de violência
O TCP incorpora evangélicos para justificar ações, vendo rivalidades como "guerra espiritual" contra o "diabólico" CV. Pesquisadores como Kristina Hinz (Uerj) e Christina Vital da Cunha (UFF) explicam que facções narcopentecostais substituem símbolos afro-brasileiros por cristãos em grafites, usando o discurso para legitimar territórios. No Ceará, 43,2% dos presos são evangélicos (censo carcerário), e o TCP pratica extorsão, como ataques a provedores de internet para cobrar "pedágio".
Especialistas como Luiz Fábio Silva Paiva (LEV/UFC) alertam para riscos de chacinas, dependendo de tréguas. Em Fortaleza, moradores vivem em silêncio por medo, com escolas fechadas por tiroteios em agosto e vilarejos virando "cidades-fantasma" em Morada Nova. A ONG Visão Mundial registra aumento de violência e ameaças a estudantes assassinados em Sobral por frequentarem escolas em áreas rivais.
“Pequenas facções locais se beneficiam de alianças com grandes grupos, ganhando redes de solidariedade para drogas, armas e suporte em rivalidades”, diz Carolina Grillo (UFF).
A Polícia Civil do Ceará, sob Márcio Gutiérrez, monitora o padrão de expansão e investiga fechamentos de terreiros, prevendo mais disputas.
Impacto na sociedade: silêncio forçado e risco de escalada
No Ceará, a taxa de homicídios caiu, mas Maranguape (79,9/100 mil) e Maracanaú (68,5/100 mil) lideram o ranking nacional. A expansão do TCP pode intensificar guerras, separando famílias e silenciando comunidades. Reginaldo Silva (Visão Mundial) relata medo generalizado: "Todos preferem o silêncio porque têm medo de perder a vida".
O Abin vê o TCP como ameaça emergente, com potencial para rivalizar o CV. Para conter, especialistas cobram inteligência policial e diálogo comunitário, combatendo o "narcopentecostalismo" que usa fé para recrutar jovens.
O Brasil, com 47 mil homicídios/ano, precisa de estratégias contra facções híbridas. Atualizações virão com relatórios da Abin.
