Quem é Ana Paraguaia? A mulher apontada como elo entre PCC e Comando Vermelho
Investigada pela Polícia Civil, Ana Paraguaia é acusada de liderar a ponte logística e financeira entre as duas maiores facções criminosas do país.
Uma operação de inteligência da Polícia Civil revelou uma figura até então discreta, mas com papel estratégico no submundo do crime organizado no Brasil: Ana Lúcia Ferreira, de 41 anos, mais conhecida como Ana Paraguaia. Presa em Taubaté (SP) no início de julho, Ana é apontada como responsável por intermediar uma inédita e poderosa aliança entre as facções criminosas Primeiro Comando da Capital (PCC), de São Paulo, e o Comando Vermelho (CV), do Rio de Janeiro.
O perfil da investigada
Natural de Ponta Porã (MS), região de fronteira com o Paraguai, Ana atuava como peça-chave em uma engrenagem bilionária de tráfico de armas e entorpecentes. Segundo investigações da Delegacia de Combate às Organizações Criminosas e Lavagem de Dinheiro (DCOC-LD), Ana usava uma rede de contatos e logística internacional para abastecer ambas as facções com armamentos pesados, oriundos principalmente do Paraguai.
O destaque dado à sua figura não se dá apenas pela participação ativa no esquema, mas por sua habilidade em negociar diretamente com fornecedores internacionais, organizar rotas interestaduais e estabelecer vínculos de confiança com líderes de facções historicamente rivais.
Aliança entre facções: um novo capítulo no crime organizado
A prisão de Ana ocorreu no contexto da Operação Bella Ciao, que investiga a cooperação entre PCC e Comando Vermelho na aquisição e distribuição de armamento de guerra. As investigações indicam que, com a mediação de Ana, ambas as facções passaram a compartilhar rotas logísticas, pontos de distribuição e até mesmo fornecedores.
Essa aproximação inédita representa um movimento estratégico, desafiando o histórico de rivalidades entre os dois grupos. Ana, segundo as autoridades, foi a responsável por manter essa ponte ativa — mesmo após perdas significativas para as organizações, como a morte de líderes e a intensificação do combate ao tráfico.
Ligação com lideranças e ostentação de riqueza
Ana Paraguaia é ex-companheira de Elton Leonel da Silva, conhecido como Galã, um dos ex-chefes do PCC, preso em 2018. Após a prisão de Galã, Ana teria assumido uma posição de liderança operacional. Ela também se relacionou com Fhillip da Silva Gregório, o Professor, apontado como liderança do CV no Complexo do Alemão, morto em junho deste ano.
Apesar de não possuir renda compatível, Ana mantinha um padrão de vida elevado. Vivia em uma residência de alto padrão em Taubaté, circulava com carros importados, ostentava joias e fazia viagens frequentes. Imóveis, veículos e contas bancárias estavam registrados em nome de terceiros, configurando possível lavagem de dinheiro. O patrimônio movimentado pelo grupo investigado, entre 2020 e 2022, ultrapassa R$ 250 milhões.
A operação Bella Ciao
A Operação Bella Ciao foi deflagrada simultaneamente nos estados de São Paulo, Rio de Janeiro, Mato Grosso do Sul e Paraná. No total, foram cumpridos 57 mandados judiciais, incluindo a prisão de outros operadores logísticos, laranjas e responsáveis por movimentações financeiras.
Segundo a polícia, Ana era investigada há pelo menos dois anos e era considerada “prioridade máxima” por sua atuação nos bastidores do crime. Seu perfil discreto, estratégico e articulado dificultou a identificação e o rastreio de seus movimentos, até a deflagração da operação.
Impacto e próximos passos
A prisão de Ana representa um duro golpe na conexão entre as duas maiores facções do país. Embora não encerre as atividades do tráfico interestadual, o enfraquecimento desse elo pode impactar diretamente o fluxo de armas e drogas, além de fragilizar a confiança entre os grupos.
As investigações continuam em andamento, com o objetivo de identificar outros nomes envolvidos, expandir os bloqueios de bens e aprofundar as denúncias por crimes como organização criminosa, tráfico internacional de armas e lavagem de capitais.